19.1.18

DE VOLTA A QUEM EU ERA



Eu estou dançando como uma estrela pop-rock descomunal, eu não sei ao certo quais movimentos devo fazer, mas sei que soaria ridículo se visto por alguém. Agora eu estou sozinho e eu tenho sido assistido pelas paredes. O ralo tem bebido das minhas lágrimas da mesma forma que o travesseiro tem enxugado os meus olhos. Eu seguro o frasco de shampoo e deixo o chuveiro molhar o meu corpo e tornar a cena ainda mais dramática. E eu estou rindo sob o tempo parado diante de mim. Rindo de mim mesmo. Rindo das minhas reações e dos movimentos que faço com as mãos ao supor que nela abrigo um microfone e que há telespectadores me assistindo. Eu sinto estar contando uma história para milhões de pessoas, sobre algo que vivi há muito e muito tempo, mas tudo aconteceu há algumas horas. Não, acho que foi ontem, ou talvez há uns cinco meses. Certamente há um ano.

A forma como eu interpreto uma música que não é minha e o jeito que enceno a minha dor tem me feito parecer engraçado, e eu estou me divertindo comigo mesmo, enquanto brinco com as minhas feridas e faço piada com o que tem me feito chorar. E lamento, lamento pelo fim do que jurei que seria eterno ao achar que estive predestinado a algo que considerei sem validade. Ser tolo é uma mania que carrego há um longo tempo e eu não prometo mudar.

É como tenho lidado com os fatos e tudo o que eu sei é que estou tentando me restaurar. Ainda que eu não pare de pensar o quanto poderíamos nos divertir juntos, correndo na chuva outra vez com os pés lamacentos e com algumas sacolas nas mãos. Olhando um para o outro e rindo – sem dizer nada porquê compartilhávamos dos mesmos pensamentos e conseguíamos sentir isso. Abrindo portões como quem invadem prédios a procura de um teto que nos mantenha a salvos. Nos beijando na escada escura e temendo que alguém pudesse nos ver. Era como se disséssemos; “se isto é um erro, então espero nunca estar certo”.

Por um momento pensei que o mundo era nosso e nós parecíamos imbatíveis, mas fomos os vilões da nossa própria narrativa. O risco de se permitir sentir fervia o nosso sangue, enquanto faíscas cobriam todas as nossas veias. Tudo o que eu tive me foi tirado e agora tudo o que me restou foi um vazio que tento preencher com uma boa dose de humor. Porque no fim todas as minhas dores se tornam uma grande piada. Eu vivi uma canção romântica cantada pelas jovens artistas da minha geração. Eu tive o mesmo final triste de suas histórias ritmadas, e agora, como elas, sou eu quem escrevo sobre. Mas a minha dor é tão silenciosa quanto eu. E eu tenho a mantido abafada.

25 comentários:

  1. A vida é sobre brincar e aprender a dançar com o que sentimentos, e a dor é infelizmente inevitável.
    O layout daqui está muito lindo :)

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    1. Realmente, é inevitável.
      Que bom que gostou do layout ;)

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  2. Olá, Ruan.
    As vezes tenho essa impressão de que estamos aqui representando um papel. Gostei bastante do texto.

    Prefácio

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    1. As vezes parece mesmo, haha.
      Fico feliz que tenha gostado! :D

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  3. Hey!
    Adorei o post <3
    Beijos https://strangerboy01.blogspot.com.br/

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  4. Olá, Ruan.
    Bem reflexivo o seu texto.
    Realmente nos proporciona pensamentos sobre a vida e o que estamos fazendo aqui.

    Abraços,
    Natalia
    http://www.revelandosentimentos.com.br

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    1. Olá, Natália.
      Fico feliz que tenha gostado.
      Obrigado! :D

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  5. Uau! Que texto, hein. Adorei esse layout e esse gif é demais! Gosto muito dessa música da Taylor. <3

    Beijos, quebrarosilencio.blogspot.com ❥

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  6. Se você me permiti dizer, li seu texto duas vezes e nas duas, por motivos diversos, parecia tão eu. Sinceramente, amei seu texto e parece que estava falando de mim, acho que no fundo, por mais solitários que pareçam ser esses pensamentos, todos se sentem algo parecido.

    Adorei seu post mesmo. Parabéns.
    Magia é Sonhar

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    1. Tbm acredito nesse "sentimento coletivo"
      aaaaa >.< Que legal que você tenha se identificado.
      E que bom que você gostou, obrigado :D

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  7. AMEI esse texto, acho que, principalmente, por ter me identificado demais com tudo que você escreveu. Me vi nas atitudes, no jeito de lidar com a dor, nas músicas e interpretações... Louco, né? Adorei o post!
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

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  8. Que texto incrível e que blog lindo! Tão genuíno e cheio de sentimento, amei demaissss! Tu escreve muito bem <3

    Beijos,
    ahamare.blogspot.com

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  9. Que texto agradável de se ler. A nossa vida é assim,cheia de reflexões que nem eu mesmo costumo entender. Esse texto me resumiu o ano passado o qual nem quero olhar para trás e relembrar,é triste todas essas situações!

    Até logo.
    uma figueira

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  10. Ruan,

    Primeiro quero te agradecer pelas palavras tão bonitas que me deixou. Obrigada! Você escreve e sabe o quanto é importante que encontremos pessoas com as quais podemos dividir o que sentimos. E se você sentiu assim, é porque tem esse coração de poesia. Obrigada.

    Segundo: você é baiano? Eu sou! õ/

    Terceiro: seu texto. QUEM NUNCA? Nossa, eu fui lendo e entendendo tudo com a aquela precisão de quem olha e diz: eu já estive ali. Hoje, todavia, por já ter passado por isso, eu te digo com a experiência de quem já viveu: alguns sentimentos acabam, servem para modelar quem somos, para amansar nosso coração. Quando o que for de verdade chegar, acredite, tudo vai fazer muito sentido.

    Eu espero então que o que for bom chegue pra você, sempre.

    Um abraço.

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    1. "Coração de poesia" que fofo, amei isso.
      Sim, eu sou de Salvador :D ♥
      E sobre o seu comentário "eu já estive ali", muito isso haha.
      Também te desejo tudo de bom.
      Outro abraço! :)

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  11. Sabe aquele texto que vem para traduzir exatamente o meu dia de hoje? Então, é esse seu post.
    Mas, aos poucos - e com muita terapia - a gente transforma essa dor em algo positivo.

    Beijos,

    Algumas Observações

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